A Biblioteca Leviana pretende reunir indicações de textos alusivos à obra de Primo Levi, publicados tanto no Brasil como no Exterior, dispostos em duas coleções respectivas. O critério adotado de atribuição de nacionalidade toma, portanto, como referência o lugar de publicação dos textos. O acesso aos mesmos dar-se-á através de links previamente liberados para uso.
Coleção Brasileira
Artigos & Ensaios
Resumo
A divisão entre submersos e salvos revela-se a divisão-chave da visão de mundo de Primo Levi. O “submerso interno” (Di Castro) presente em todo sobrevivente se desdobra no submerso como Doppelgänger, uma voz interna que impulsiona o testemunho e que no escritor encontra sua representação narrativa, oscilante entre a metáfora da ameaça de uma sombra persecutória (presente na produção poética) e a personagem do amigo-duplo Alberto, companheiro desaparecido.
A urgência do testemunho se desdobra na questão de como representar os submersos, os únicos que desceram até o fundo e poderiam devolver um testemunho realmente integral. Contudo, o escritor encontra uma “palavra sobrevivente” (Derrida) para aprofundar as facetas da vergonha, interrogar os fantasmas da culpa e delinear a “zona cinzenta”. Diante desta ferida insanável, Levi recusa a ideia de um privilégio merecido, nem precisa do conforto de uma providência divina: vários fatores contribuíram à sua salvação, mas as forças que operam são o acaso e a sorte. Já que a Fortuna, como salienta Robert Gordon, é uma força mítica que nossa cultura sempre utilizou para lidar com a realidade incompreensível e incontrolável, no caso do sobrevivente ela preenche a ausência angustiante de explicações; em Levi torna-se ponto de apoio para compor a representação literária dos eventos.
A sobrevivência é, portanto, da ordem do “estranho”. Origem, evolução, adaptação, seleção natural, embate entre ordem e caos confluem no conto “Carbono” e demonstram que afinal o polo de maior atração de toda sua produção é o quesito: quem sobrevive e por quê?
Palavras-chave: Literatura; Primo Levi; salvos; submersos; testemunho.
BASEVI, Anna. “A sombra dos submersos” Literatura e Sociedade N. 32, jul./dez. 2020, p. 73–97
Resumo
A aventura das numerosas traduções de textos do escritor italiano Primo Levi (1919-1987), sobrevivente de Auschwitz, mas também reconhecido como um grande narrador do século XX, aponta para a importância de uma leitura atenta, competente das questões testemunhais e literárias, capaz de se colocar numa dimensão relacional. Se o ato tradutório pode ser abordado como relação entre textos (Meschonnic) — e não apenas entre línguas —, a solução de impasses ou o enriquecimento que advém da soma do original com seu texto traduzido pode se dar também graças a relações pessoais e de intensa escuta entre escritor e tradutor, ou, se quisermos usar uma expressão ao mesmo tempo química e literária, graças às afinidades eletivas instauradas na leitura (e releitura operada por ambos). Interessantes casos das traduções inglesa e alemã do primeiro texto de Levi, Se questo è un uomo (1947/2ª ed. 1958), serão relatados para compor um quadro panorâmico de sucessos e problemáticas, mas também para introduzir a questão específica da tradução brasileira do livro (editora Rocco, 1988), seus limites e potenciais desafios futuros.
Palavras-chave: Literatura de Testemunho; Primo Levi; Tradução.
BASEVI, Anna. “Tradução, diálogo, testemunho: Primo Levi e seus tradutores” Revista Cadernos de Tradução Vol. 40, nº 3, 2020, p. 75–94
https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2020v40n3p75
Resumo
No presente artigo, pretende-se pensar o conceito de evento a partir de uma leitura de Os afogados e os sobreviventes, de Primo Levi. Considerando que o evento limite é, segundo Saul Friedländer, o evento capaz de testar as categorias tradicionais de conhecimento e representação, assume-se que seria possível uma inversão, na qual o texto do sobrevivente — como é o caso de Levi — pode servir não de prova documental ou descrição da experiência limítrofe, mas de estrutura conceitual. Aqui, entende-se o limite a partir de uma relação com o outro: o limite de falar como um outro de si mesmo, o limite de falar para o outro, o limite de falar pelo outro e o limite de falar do outro.
Palavras-chave: Primo Levi; Os afogados e os sobreviventes; evento limite.
CALDAS, Pedro Spinola Pereira. “O evento limite em Primo Levi: uma leitura de Os afogados e os sobreviventes” Literatura e Sociedade N. 32, jul./dez. 2020, p. 51–72
https://revistas.usp.br/ls/article/download/177049/164246/444685
Resumo
Este artigo pretende contribuir com a discussão sobre a narrativa a partir de uma leitura de A Trégua, de Primo Levi. Publicado em 1963, A Trégua é o segundo livro de Levi, concluído dezesseis anos após É isto um homem?, e apresenta uma questão inquietante: por um lado, ao contar o retorno de Levi para sua casa em Turim, após ser libertado de Auschwitz, o livro é também uma narrativa de reencontro com a própria humanidade; por outro lado, o autor reconhece sua angústia ao perceber que o mal de Auschwitz permanecerá para sempre com ele. O estudo propõe o conceito de “variações experimentais” para entender a estrutura narrativa do livro, considerando a alternância entre episódios expressivos e a relativa incapacidade de gerar mudança significativa no sentido histórico do Holocausto.
Palavras-chave: Homero; Ulisses; narrativa; ardil; perseverança.
CALDAS, Pedro Spinola Pereira. “Variações experimentais: um estudo sobre a narrativa em A Trégua, de Primo Levi” Viso · Cadernos de Estética Aplicada, v. 17, jul-dez. 2015.
https://www.unirio.br/cch/escoladehistoria/texto_caldas
Palavras-chave: Homero; Ulisses; narrativa; ardil; perseverança.
Resumo
Questão central em toda a obra de Primo Levi, o trabalho humano é o que simultaneamente nos constitui como seres sociais e o que, no antropoceno, pode nos destruir ou reinventar. Definindo-se como um escritor que trabalha com “a montagem das palavras assim como o químico trabalha na montagem de moléculas”, é por meio dessa experiência que ele busca tanto lançar luz sobre a “zona cinzenta” do Lager e seus desdobramentos quanto atravessá-los por meio de uma imaginação vertiginosa, que é a contraface do “estudo sereno” com que examinou a experiência pessoal e coletiva de Auschwitz – em suas palavras, um “gigantesco experimento biológico e social”. Emulando o método de Levi e deixando o autor/tradutor falar, este ensaio procede a uma montagem, por analogia e metonímia, de uma variedade de textos seus que tangenciam muitas de suas obsessões, todos eles traduzidos e refletidos por mim nesses últimos vinte anos.
Palavras-chave: Primo Levi (1919–1987); Literatura italiana; Tradução literária.
DIAS, Maurício Santana. “Primo e ‘eu’: uma montagem de risco” Revista Literatura e Sociedade N. 32, 2019, p. 17–35
Resumo
Uma das tópicas recorrentes em toda a obra de Primo Levi, mesmo em sua “literatura de testemunho”, é a tentativa de integrar a cultura científica e a cultura humanística, ou mais propriamente literária. A partir de uma leitura de três ensaios seus, este breve artigo pretende acompanhar algumas de suas argumentações em defesa desse amplo projeto intelectual.
Palavras-chave: literatura; testemunho; cultura científica; cultura humanística.
DIAS, Maurício Santana. “Primo Levi e as chaves da ciência” Revista Diálogos Mediterrânicos, n. 14, jun. 2018
Resumo
Neste ensaio investigamos de que maneira o longevo topos “depois da tempestade, a bonança” comparece em autores como Homero, Aristóteles, Virgílio, Dante Alighieri, Giacomo Leopardi e Herman Melville para, em seguida, analisarmos sua presença no trabalho de Primo Levi (1919–1987), químico turinense e escritor que sobreviveu e testemunhou os horrores de Auschwitz. Embora o referido lugar-comum apareça, de forma mais evidente, em Os Afogados e os sobreviventes (1986/2016), seus pressupostos ampararam as reflexões de Levi sobre as experiências no Lager, especialmente no que diz respeito aos limites da representação. O itinerário de uma tópica em diferentes (con)textos admite significados nem sempre análogos, pois cada formulação se ampara em prescrições, categorias, orientações e estilos particulares. Por meio deste estudo, pretende-se contribuir com as reflexões sobre o “irrepresentável” na literatura de testemunho, evidenciando um esforço no sentido de figurar o inaudito e amplificar eventos dramáticos e/ou trágicos com argumentos convencionais, muitos deles provenientes de práticas letradas antigas.
Palavras-chave: lugar-comum; Auschwitz; Primo Levi.
FELIPE, Cleber Vinícius do Amaral. “Depois da tempestade, o relato: Experiência e narrativa em Primo Levi. Varia História, v. 37, n. 75, sep.-dec. 2021
https://www.scielo.br/j/vh/a/VrV7LJh55M7vKCsM9NDwDnw/?format=html&lang=pt
Resumo
Ulisses, herói multifacetado, astuto e industrioso, confrontou figuras mitológicas como herói épico (Odisseia), narrou sua própria morte na condição de alma danada (Divina Comédia) e foi transformado em expediente literário nos escritos de Primo Levi, que o empregou para figurar experiências dramáticas ocorridas nos campos de concentração. Pretende-se investigar o lugar ocupado por Ulisses e, simultaneamente, o papel desempenhado pela cultura nos escritos de Levi. Retomar, analisar e propagar narrativas comprometidas com eventos que frequentemente são objeto do negacionismo histórico, como a Shoah, ajuda a perceber as potencialidades da literatura (de testemunho ou não) e a necessidade de usá-la em favor não apenas da produção de conhecimento, mas também de efeitos persuasivos, ao convidar o leitor a refletir sobre prerrogativas do seu presente.
FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral. O canto de Ulisses: as (im)possibilidades da narrativa em Primo Levi / The song of Ulysses: the (im)possibility of the narrative in Primo Levi. ArtCultura, Uberlândia, v. 23, n. 42, p. 133-153, jan.-jun. 2021.
Palavras-chave: Primo Levi; Dante Alighieri; Ulisses.
Resumo
Este artigo discute o topos do limite da representação, que não surgiu no século XX, mas foi utilizado por muitos sobreviventes da Shoah para sugerir que os eventos ocorridos nos campos de concentração não poderiam ser convertidos em narrativa verossímil. Embora Primo Levi tenha recorrido a esse lugar-comum, ele refletiu sobre os horizontes e possibilidades da representação. O estudo analisa de que maneira o autor mobilizou diferentes expedientes para figurar o inaudito da experiência no Lager.
Palavras-chave: Primo Levi; representação; literatura de testemunho.
FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral. “Primo Levi e os limites da representação.” Topoi (Rio J.), v. 23, n. 50, p. 372-392, maio/ago. 2022.
https://www.scielo.br/j/topoi/a/SCtHpvZZ7FZdrHNqB5sfcSG/abstract/?lang=pt
Resumo
Dentre os incontáveis testemunhos e narrativas que se propuseram denunciar, narrar e dar sentido à experiência produzida pela Shoah, o livro É isto um homem?, do escritor italiano Primo Levi, prefigura como um dos relatos mais contundentes acerca dos horrores e monstruosidades vividas nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O presente artigo propõe uma discussão acerca das formas de violência e mortificação do corpo apontadas no relato de Levi, as quais revelam um processo de reificação da vida, cujas consequências mais diretas afetam tanto a relação do indivíduo com seu próprio corpo quanto com o do outrem. Para tanto, partiremos do testemunho do autor acerca do processo de reificação e degradação humana, bem como das reflexões sobre a relação entre esclarecimento e barbárie pensadas por Horkheimer e Adorno e dos conceitos de soberania e biopolitização do estado chamada de “vida nua” de Agamben.
Palavras-chave: Shoah; mortificação; corpo; biopolitização; Primo Levi.
FELIX, José Carlos; SALVADORI, Juliana Cristina. A mortificação do corpo em É isto um homem?, de Primo Levi. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 68, n. 3, p. 43-56, set./dez. 2015.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/2175-8026.2015v68n3p43
GARCIA, Neiva Kampff; MARTINS, Cláudia Mentz. O silêncio audível em É isto um homem?, de Primo Levi.
Resumo
Primo Levi, no romance É isto um homem?, publicado pela primeira vez em 1947, relata sua experiência junto aos judeus do complexo de Auschwitz e dá voz aos ausentes, aos que foram silenciados pela inexistência física no pós-guerra, aos que foram as verdadeiras testemunhas do período que conhecemos por Holocausto. Levi retrata os sujeitos que conheceram uma existência de permanente oscilação, resultado de uma desconstrução física, moral e afetiva com a derrota do nazismo em 1945. A vida dos homens e mulheres pós-Auschwitz caracterizou-se pelos sentimentos opostos, como alívio e arrependimento, culpa e alegria, lágrimas e revolta, transtornando a capacidade de rebelião dos sobreviventes diante da liberdade. A contínua vivência em estados-limite, que o autor expõe ao longo da obra, é uma profunda reflexão sobre a fragilidade da existência humana em confronto com a sua capacidade de resgatar o registro memorial de múltiplas percepções de uma época de anulação e apagamento de si mesmo. O aniquilamento físico, a desintegração moral e espiritual, a precariedade de entendimento da realidade, a degeneração e a opacização do ser humano como um todo são as perspectivas colocadas pelo escritor para recriar a sua própria identidade. Ele, enquanto narrador e personagem de um dos períodos mais horrendos da era moderna, efetua um registro que desvela a (sobre)vida do homem do pós-Segunda Guerra Mundial.
Palavras-chave: Primo Levi; campo de concentração; memória; silêncio.
GARCIA, Neiva Kampff; MARTINS, Cláudia Mentz. “O silêncio audível em É isto um homem?, de Primo Levi” Nau Literária, v. 13, n. 02, Dossiê: Literatura e Confinamento, 2017.
https://seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/76174
Resumo
Este artigo se inscreve no campo de estudos literários que visa ao estabelecimento de conexões entre literatura e história, memória coletiva e esquecimento, violência e traumas coletivos, partindo da análise da letteratura di testimonianza deixada por Primo Levi a respeito do Holocausto. Com base no estudo de textos do autor italiano inseridos na categoria não ficcional – destacadamente, É isto um homem? –, bem como de ensaios e entrevistas concedidas por ele, propomo-nos identificar e analisar os fatores que impulsionaram a produção de sua obra literária, fundada no compromisso ético-estético de deixar a seus contemporâneos e à posteridade testemunho vivo do genocídio do povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial, a partir de sua própria experiência como “sobrevivente fortuito” de Auschwitz. A postura consciente adotada e manifestada por Levi em sua obra o destaca como expoente literário da luta contra a opção pelo esquecimento, preferida por outras vítimas como mecanismo de autodefesa e superação da experiência traumática. À vontade de apagar a memória pessoal, o químico e escritor piemontês opunha a necessidade de contar e compartilhar a fim de manter o trauma vivo na memória coletiva, compreendendo o registro dos testemunhos como compromisso ético e histórico por parte dos sobreviventes como ele. Embasamos nossa análise na produção teórica de autores como Theodor Adorno – especificamente, sua visão da arte como historiografia e o “imperativo categórico” por ele atribuído aos artistas e intelectuais após Auschwitz –, além de Jeanne Marie Gagnebin, Andreas Huyssen, Jacques Le Goff, Jaime Ginzburg e Márcio Seligmann-Silva.
Palavras-chave: Primo Levi; É isto um homem?; Literatura de Testemunho; Trauma; Memória e Literatura; História e Literatura.
DUTRA, Paulo; VOGAS, Vitor Bourguignon. “Dizendo o indizível: testemunho da aniquilação do homem em É isto um homem?” Contexto, n. 38 (2020): Dossiê Literatura e Humor, nov. 2020
Resumo
Se questo è un uomo, obra publicada pelo judeu-italiano Primo Levi em 1947, é um dos pilares da literatura de testemunho da Shoah. Nesta obra precursora, Levi não apenas detecta diversos dos temas básicos relativos à barbárie nazista e seu regime de terror, mas, ultrapassando esta etapa, oferece uma cuidadosa reflexão sobre a experiência vivida nos campos de extermínio, realizando um verdadeiro mergulho nos aspectos mais nefastos da alma humana. Na sequência, o autor publicou diversas outras obras com a temática do nazismo. Em vista dessas características, o conjunto da obra de Levi permanece plenamente atual, sendo indispensável para a compreensão dos difíceis tempos que estamos vivendo. Neste artigo, procuramos identificar e elaborar alguns desses temas, que foram retomados e aprofundados por outros destacados sobreviventes dos campos de extermínio.
Palavras-chave: Primo Levi; Nazismo; Literatura de testemunho.
KIRSCHBAUM, Saul. Se questo è un uomo – atualidade de Primo Levi. Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG, Belo Horizonte, v. 16, n. 30, maio 2022. ISSN: 1982-3053.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/maaravi/article/download/38717/30969/133117
Resumo
Em meio às figurações sociais que moldam a vida dos indivíduos, o escritor italiano Primo Levi, deportado para Auschwitz em 1944, se perguntou: “É isto um homem?”. Levi conseguiu sobreviver no trabalho da escrita de testemunho, embora não tenha escapado ao discurso que incorpora o indivíduo na consciência do mal. Ou, às práticas históricas de enunciação que criam a figura do judeu no plano da condenação moral como pessoa que tem um preço, portanto, escravizada. Ou, aos impactos da crença e propaganda nazista no psiquismo humano. Escolheu um outro modo possível de dar fim ao seu trauma. Neste artigo, convidamos o sociólogo alemão Norbert Elias, assim como outros pensadores sociais, para desvelar as figurações de sobrevivência na narrativa de Primo Levi. As categorias analíticas da sociologia eliasiana utilizadas na interpretação de A Tabela Periódica, o entrelaçamento de relações no mapa da existência, oferecem pistas de decifração do que o corpo e o coração de cientista escritor não conseguiram escapar.
Palavras-chave: Figurações de sobrevivência; Primo Levi; Norbert Elias.
LEÃO, Andréa Borges; PAIVA, Antonio Cristian Saraiva. “Figurações de sobrevivência em Primo Levi: Diálogos com Norbert Elias” Literatura e Sociedade N. 32, jul./dez. 2020, p. 36–50
https://revistas.usp.br/ls/article/download/177046/164243/444677
Resumo
O presente artigo estabelece os passos poéticos e estéticos da articulação da memória na obra É isto um homem?, do autor italiano Primo Levi. Na obra, Levi procura estabelecer caminhos mnemônicos para, através da recordação de seu período como preso do campo de concentração em Auschwitz, denunciar as atrocidades da fábrica de extermínio alemã contra judeus, na Segunda Guerra Mundial, eternizando seu testemunho em uma obra poética. Através de sua indignação ante ao horror, Levi narra a engenharia da morte nazista, para mostrar que o Holocausto foi um complexo sistema de execução humana por meio de um processo minucioso de desumanização e de desconstrução de todo e qualquer traço de dignidade dos presos nos campos de concentração.
Palavras-chave: Primo Levi; memória; Auschwitz.
MAURO, Claudia Fernanda de Campos; CATALANO, Flávio Antonio. Primo Levi: o articulador de memórias. Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara, Brasil. Publicado em 26-07-2022. Edição: v. 16 n. 30 (2022)
https://periodicos.ufmg.br/index.php/maaravi/article/view/39014
Resumo
Vítimas de experiências costumam ver-se modificadas por elas. No caso de Primo Levi, isso pode ser verificado na narrativa de É isto um homem? e A trégua. Os livros tratam de sua passagem como vítima do Nazismo. Tais narrativas, contudo, não se resumem a relatar as experiências mais traumáticas e de maior ressonância histórica vividas. Micro-histórias e outras narrativas, muitas delas tratando de assuntos relativos ao cotidiano em situações-limite, dão o tom de suas páginas. Assim, absorve-se o nível de angústia que acomete Levi: como o Homem é capaz de se transformar em outro, perdendo-se de si mesmo, e como isso pode transformar vítimas em algozes.
Palavras-chave: cinza; Primo Levi; Auschwitz; memória; trauma.
MONTEIRO, Bernardo Elizeu de Queiroz. “Traços acizentados do cotidiano em Primo Levi” Revista Da Anpoll, v. 1, n. 36, p. 250–266, 2014.
https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/746
Resumo
Neste artigo, pretendemos abordar o viés testemunhal da produção poética de Primo Levi. Para isso, trazemos à discussão, inicialmente, toda a problemática que envolve a relação entre poesia e barbárie, a partir das reflexões de Adorno (2009), a quem se contrapõem Celan (1996) e o próprio Levi (1988). Em seguida, trabalhamos o tema desta pesquisa especificamente na biografia e na bibliografia do autor italiano em estudo, analisando dois de seus poemas: “Levantar” e “Shemá” (LEVI, 2019). No final deste itinerário, apontamos, como eixos centrais da poética de Primo Levi, o valor catártico e denunciatório da poesia como meio de suscitar uma postura ética de seus leitores frente à Shoah.
Palavras-chave: Testemunho; Poesia; Shoah; Primo Levi.
NASCIMENTO NETO, Artur Viana do; MULLER, Fernanda Suely. “O teor testemunhal da poesia de Primo Levi. Revista Araticum Vol. 24, nº 1, 2022
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/araticum/article/download/5956/6231/26069
Resumo
O escritor judeu-italiano Primo Levi (1919-1987), químico por formação, é reconhecido mundialmente pela sua narrativa sobre os horrores da Shoah. Na apresentação de seu livro Ad ora incerta, o autor sugere que a poesia está inscrita em nossa herança genética, afirmando ter cedido a um impulso instintivo de se expressar por versos. Isso porque, “em momentos incertos”, o poema lhe parecia mais apropriado do que a prosa para transmitir uma ideia ou imagem. Segundo o crítico Cesare Segre, a escrita poética de Levi é marcada por um tom profético de exortação e pela onipresença do sofrimento. Em É isto um homem?, livro em que Levi narra os horrores do campo de concentração, há um poema homônimo que remete ao Shemá, oração judaica de profissão do monoteísmo, no qual o eu-lírico exorta o leitor a não esquecer o testemunho do sobrevivente, conferindo a ele o mandamento de resguardar a memória da Shoah. A presente comunicação reflete sobre a composição do trabalho poético de Levi, a partir de uma investigação crítica de Mil Sóis – livro que reúne alguns de seus poemas, publicado no Brasil em 2019 pela Editora Todavia. Utilizando metodologia bibliográfica, a análise considera seus poemas, escritos ensaísticos e autobiográficos, bem como abordagens teóricas de Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Georges Didi-Huberman, discutindo a poesia de Levi fundamentada em sua experiência-limite em Auschwitz, e em sua formação científica e filosófica.
Palavras-chave: Poesia; Testemunho; Memória; Shoah.
RODRIGUES, Breno Fonseca. Esses corpos que me habitam no sagrado do existir: a poesia como herança genética em Primo Levi. 38 | Annales FAJE, Belo Horizonte-MG, v. 4, n. 3 (2019). Anais do III Colóquio Interfaces.
https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/download/4313/4346/14270
Resumo
O escritor e químico italiano Primo Levi passou um longo ano de sua vida no campo de concentração entre 1944 e 1945. Uma vez liberto do campo, ele começa a escrever suas memórias deste período e publica seu primeiro livro É isto um homem? em 1947, seguido de outras obras, inclusive de ficção. Levi sempre se questionou se valia a pena resgatar e registrar o que viveu no campo. Pensava que havia uma espécie de dever de memória que poderia resultar num legado para as gerações futuras, evitando que barbáries como essa voltassem a ocorrer. Mas sentia também a necessidade do esquecimento, tamanho foi o trauma vivido e a vergonha daquilo que os seres humanos chegaram a fazer com outros seres humanos. Este artigo examina a complexa relação entre memória, esquecimento e narrativa na obra de Levi, discutindo sua importância para a história.
Palavras-chave: memória; narrativa; Primo Levi.
SOARES, Geraldo Antonio. Os tormentos da memória: trauma e narrativa nos escritos de Primo Levi. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 28, n. 48, p. 911–927, dez. 2012
https://www.scielo.br/j/vh/a/HFHt4TKFrxFpstNphTQ4WVw/abstract/?lang=pt
Teses & Disertações
Resumo:
Esta dissertação se concentra no estudo da produção literária do escritor italiano Primo Levi (1919-1987). O objetivo deste trabalho é propor algumas discussões partindo da leitura de seu primeiro livro, É isto um homem?, contemplando também outros de seus escritos, como entrevistas, romances e poemas. O primeiro deles, publicado em 1947, é pensado na contemporaneidade, dentro da literatura de testemunho, sendo Levi uma das grandes vozes que falaram sobre os processos de desumanização do homem em Auschwitz. Entretanto, pretende-se apresentar outros caminhos de leitura: a relação entre Levi e Franz Kafka; os diálogos entre língua, música e poesia no episódio de O canto de Ulisses; e, por fim, a retomada da pergunta fundamental da obra de 1947 a partir de leituras de poemas que questionam o antropocentrismo, abrindo espaço para uma rede de relações entre formas de vida humanas, animais e vegetais.
Palavras-chave: Literatura italiana; Primo Levi; É isto um homem?; Tradução; Linguagem; Relações humanas.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patricia Peterle Figueiredo Santurbano
Banca examinadora: Prof. Dr. Maurício Santana Dias (USP); Prof. Dr. Aislan Camargo Maciera (USP); Prof.ª Dr.ª Meritxell Hernando Marsal (UFSC).
CARMINATI, Helena Bressan. “Considerai se isto é um homem”: uma leitura de Primo Levi. Dissertação (Mestrado em Literatura) – Programa de Pós-Graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2021.
Resumo
Após uma breve contextualização histórica, partimos da noção psicanalítica de trauma aplicada à experiência dos sobreviventes do Holocausto, para enquadrar duas obras literárias de Primo Levi, um desses sobreviventes, numa das duas correntes da literatura dita de testemunho, e estabelecer uma interrogação de base para este trabalho: o que pretende Primo Levi reparar com a sua escrita, que foi destruído dentro de si pela experiência no Lager. Ao longo da pesquisa delineou-se, alicerçada no texto das obras Se Isto é um Homem e Os que Sucumbem e os que se Salvam, a hipótese de se tratar de uma tentativa de reparação do “bom objecto” interno; e propôs-se então um corolário, apoiado por propostas de alguns autores sobre a incapacidade de reparação que afeta a escrita memorial: o do falhanço inevitável dessa tentativa de Levi em face das especificidades do trauma sofrido, falhanço que procuramos entender e explicar à luz da teoria da Mãe Morta, de André Green.
Palavras-chave: trauma; narrativa; reparação.
LACERDA, Maria Gabriela Forjaz de. “Escrita de Primo Levi: à procura da reparação” Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, apresentada ao Instituto Superior de Psicologia Aplicada – ISPA, 2016. Orientação: Profª Doutora Maria Antónia Carreiras.
https://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/5385/1/20982.pdf
Resumo
Esta dissertação debruça-se sobre as diferentes formas de testemunhar encontradas na obra de Primo Levi, consideradas a partir dos contos de ficção científica “Borboleta angélica”, “Versamina” e “A Bela Adormecida na geladeira: conto de inverno”, presentes na coletânea Histórias Naturais (1966). Incluem-se também algumas considerações sobre o testemunho nos poemas “Pôr do sol de Fossoli” e “Shemá”, selecionados e traduzidos por Maurício Santana Dias no livro Mil sóis: Poemas escolhidos (2019), além do poema “Buna” (1945), analisado em tradução livre. A pesquisa busca verificar a “função testemunhal” ancorada na verossimilhança, mas não necessariamente em acontecimentos históricos autobiográficos, baseando-se na expansão do conceito de testemunho proposto por Andrea Lombardi, Marcio Seligmann-Silva, Shoshana Felman e Jean Marie Gagnebin. O estudo também apresenta considerações sobre elementos expressionistas presentes no capítulo O canto de Ulisses, do livro É isto um homem (1947), e no conto “Argônio”, presente em A Tabela Periódica (2001).
Palavras-chave: Primo Levi; Testemunho; Ficção Científica; Poesia; literatura italiana.
MARTINS, Isabelle Pinto. Os diferentes testemunhos em Primo Levi. Dissertação (Mestre em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos Literários Neolatinos – Literatura de Língua Italiana) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
https://www.academia.edu/89722525/OS_DIFERENTES_TESTEMUNHOS_EM_PRIMO_LEVI
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar os diferentes tipos de silêncio presentes na obra É isto um homem?, de Primo Levi. A escrita sobre a Shoá é permeada por diferentes manifestações de silêncio; este, além de se apresentar como uma impossibilidade, pode ser uma chave de leitura, analisada a partir das perspectivas de autores como Sérgio Kovadloff, Renato Lessa e do próprio Primo Levi.
Palavras-chave: Auschwitz; Literatura; Primo Levi; Shoá.
Orientador: Moacir Aparecido Amâncio
Banca examinadora: Moacir Aparecido Amâncio (Presidente), Saul Kirschbaum, Gabriel Steinberg Schvartzman, Leonardo Nelmi Trevisan
SERRANO, Rebeca Fernanda Gasparini. Primo Levi: uma leitura dos silêncios em É isto um homem? Dissertação (Mestrado em Estudos Judaicos) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8158/tde-26092019-145826/pt-br.php
Coleção Internacional
Artigos & Ensaios
Abstract
This article proposes a path of reasoning capable of showing how history can become personal inasmuch as it produces the experience of anguish. Based on two concrete personal experiences during the current political context of Brazil, it takes three steps: first, history becomes personal as it helps build one’s personality; second, history produces empathy, considered under Dominick LaCapra’s concept of empathic unsettlement; finally, it examines Primo Levi’s concept of the gray zone, showing how it contains possibilities of empathic unsettlement. The analysis illustrates that history becomes personal insofar as it produces anguish, a notion permeating The Drowned and the Saved (1986), which contains Levi’s classic chapter on the gray zone.
Keywords: Theory of History; Morphology; Testimony.
CALDAS, Pedro Spinola Pereira. “History as anguish: Empathic Unsettlement and Primo Levi’s concept of ‘gray zone’ / História como angústia: Inquietação empática e o conceito de ‘zona cinza’, de Primo Levi” História & Historiografia, v. 12, n. 31, p. 24–46, set.-dez. 2019
https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1517/803
Tradução de trechos do apêndice a É isto um homem? de Primo Levi, por Helena Bressan Carminati Literatura Italiana Traduzida. ISSN 2675-4363. HELENA BRESSAN CARMINATI — PRIMO LEVI — TRADUÇÃO. Publicado em 26 de maio de 2020.
https://literatura-italiana.blogspot.com/2020/05/traducao-de-trechos-do-apendice-e-isto.html