1975: Primeira edição italiana, Turim, Editora Einaudi
XXXX: Primeira edição brasileira, Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará
No seu quinto livro – A tabela periódica, de 1975 -, Levi acrescenta às vertentes já presentes no seu universo de matérias literárias a dimensão da química. Por certo, ela já estava inscrita, de modo imanente, nos passos anteriores da obra, tal como já indicado. A novidade decorre da centralidade que a linguagem e o espírito leviano da química assumem na composição do texto.
Desde 1963, ano de publicação de A trégua, Levi manifestou forte disposição de escrever sobre a química, vale dizer, de inscrevê-la de algum modo em seu universo imaginário como escritor. Se a intenção inicial, tal como declarou em entrevista a Enzo Fabiani, foi a de “escrever o que faz o químico” e de “dizer ao público o significado da pesquisa científica”, o processo de escrita, que percorreu cerca de uma década em paralelo à publicação dos livros de literatura fantástica, acabou por incorporar outras dimensões. O que disso resultou foi, a um só tempo, um experimento de notável inovação formal e de fusão de todos os temas e gêneros até então presentes na trajetória do autor.
A tabela periódica trouxe em seu título uma homenagem ao químico russo Dimitri Mendeleev, criador da tabela à qual seu nome foi associado de modo indelével. Mendeleev agrupou os 63 elementos químicos então conhecidos em 1869 numa tabela ordenada de modo crescente segundo os seus números atômicos – ou quantidade de prótons –, dispondo-os, ainda, em sete “períodos”, compostos por elementos dotados da mesma quantidade de camadas eletrônicas. Para Levi, tratava-se de um ordenamento que dava a ver a própria ordem da natureza, “como quando se acende uma lâmpada: antes estava escuro e depois faz-se a luz”[1].
Primo Levi via beleza e dimensão poética na Tabela de Medleev: “era uma poesia, maior e mais solene do que todas as poesias digeridas no ginásio: pensando bem, tinha até rima![2]” A cada um dos vinte e um capítulos, conferiu como título um elemento químico. Neles, é possível dizer que todos os temas levianos estão presentes: a química, a dimensão judaica de seus antepassados, o Campo, a imaginação fantástica. Marco Belpoliti define A tabela periódica como “o livro de contos mais heteróclito de Levi, mas também o de maior ligadura, no qual se passa do tom épico ao humorístico, do conto autobiográfico à divagação douta”[3]. Em 1985, Italo Calvino definiu a obra como o “mais primoleviano” dos livros de Primo Levi[4]. No mesmo ano de seu lançamento, A tabela periódica foi agraciada, na Itália, com o Premio Prato.
(Trecho retirado de Renato Lessa, “À guisa de posfácio: o trajeto leviano”, In: Renato Lessa & Rosana Kohl Bines (orgs.), Mundos de Primo Levi, Rio de Janeiro: Editora da PUC-Rio/)
[1]. Entrevista concedida a Lorenzo Mondo, “Il sistema periodico”, transmitida pela RAI em 14/09/1975. Cf. Primo Levi, Opere complete III, op. cit., p. 79.
[2]. Cf. Primo Levi, A Tabela Periódica, op. cit., p. 47.
[3]. Cf. Marco Belpoliti, Primo Levi: Di fronte e di profilo, op. cit., p. 257.
[4]. Cf. Italo Calvino, “Os dois ofícios de Primo Levi”, op. cit., p. viii.
